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Com muito atraso, lá vai a

Phase Phinal

Finalmente deixamos os cassinos para trás e entramos na ensolarada Califórnia. (Não sei porque todas as vezes que alguém diz Califórnia, tem que dizer Sunny Califórnia; é como com Homero, que repete sempre "astucioso Ulisses" ou "os dedos cor-de-rosa da Aurora". Lá pelo fim da Odisséia, você quer mais que o Ulisses deixe a Penélope curtir a vida com um menos astucioso, ou que a Aurora coloque os dedos num tinteiro.) Como dizia, entramos na ensolarada Califórnia. Com chuva. Contornamos o Lago Tahoe, e francamente, o lado da Califórnia é muito mais bonito. Só casas baixas, reservas naturais e nada de cassinos. E a fabulosa Baía Esmeralda (suspiro!). Fosse no Caribe, ao invés de um lago no meio das montanhas, seria o lugar perfeito para o Corsário Negro ancorar seu navio.

Temos dois dias de viagem antes de poder tomar posse da nossa casa em Stanford. Infelizmente é um fim de semana, então o Parque Yosemite e o Parque das Sequóias, no Sul, estão lotados. Decidimos ir para o Norte. Pegamos a route 80, em direção a Truckee, onde fica o Donner Pass (lembram, onde aquela caravana de pioneiros ficou encurralada durante todo o inverno). Convenientemente, decidimos almoçar antes de chegar ao passo (você almoçaria em um restaurante no Donner Pass? Eu não!) Achamos uma birosca com os indefectíveis bacon, ovos, hash browns. Atenção: terceira refeição digna de nota. Bom bacon, bons ovos e bom hash brown. Geléia de morango feita em casa, pêssegos da horta. Incrível como comida caseira faz diferença, mesmo nos EUA.

Em Donner Pass há um museu dedicado aos pioneiros, que vale a visita. Sabem aquelas histórias de gente a cavalo na caravana, ou as pessoas dentro dos carros, guiando cavalos, nos filmes de western? Não era lá muito freqüente. Cavalos sofrem muito na viagem. Bois têm a vantagem de puxarem mais peso sem reclamar. E podem sempre virar churrasco. Os carros eram, na sua maioria, para transporte de objeto. Aqueles que podiam, ANDAVAM do Mississipi até a Califórnia. Só crianças pequenas, doentes ou idosos (ou mulheres, que podiam começar a preparar a comida na carroça).

Mas nós, pioneiros bem sucedidos, entramos na ensolarada Califórnia. E o ambiente muda. Atravessamos quase todo o Nevada sem ver uma árvore: na Califórnia há pomares e pomares, maçãs, pêras, nectarinas, laranjas. Até as montanhas são diferentes: em vez das pedras nuas que vimos de Wyoming até Nevada, as montanhas tem uma leve penugem, fofa, como capim alto e dourado. Só os esquilos não mudaram, continuam suicidas.

Sempre para o Oeste, passamos ao norte de Sacramento, no Forte Sutter, que deveria ser o destino final do Donner Party (ou vocês acham que eu tinha esquecido dos coitados?). Paramos em uma pequena cidade chamada Williams, interseção com a Interstate 5. A cidade é composta de um total de oito motéis e mais nada. Vive em função dos viajantes das duas estradas principais. Não vi nem escola.

Nosso motel é pequeno, mas limpo e barato. Paramos aqui porque a próxima cidade é em Clearlake, um centro turístico, e estamos no sábado à noite: os preços disparam (aliás, já dispararam desde que chegamos na Califórnia: a gasolina custa cerca de US$ 1,24-US$1,35 o galão, enquanto encontrávamos em New Jersey um galão por menos de um dólar, às vezes). Depois de 21 dias de viagem, precisamos apertar um pouco (mais) o cinto. Mas nem custou tanto. Gastamos uma média de 60 dólares por dia par os dois juntos, contando tudo, motéis, acampamento, gasolina e museus.

Deixamos Williams as 10:00, o que é quase um record. Como Roberto trabalha todas as noites para os clientes na Itália, o normal é sair do motel no limite do tempo, pelas 11h. A ensolarada Califórnia é também a quente Califórnia, e estamos suando bicas nas primeiras vinte milhas. Passada a própria cadeia de montanhas, chegamos ao Piemonte, Itália. (Antes de explicar como passamos da Costa do Pacífico ao Mediterrâneo, um pequeno parênteses: lembram daquelas montanhas que desenhávamos no primário, todas do mesmo tamanho, redondas, redondas, como um letra "m" escrita por uma freira? As montanhas da Califórnia são assim. Fecha parênteses.) Na verdade, o tal Piemonte californiano é o vale do rio Napa, um dos grandes produtores de vinho da região. Vinhedos enormes, montanhas sombreadas, e curvas como na Langa piemontesa. Até ciprestes alguém importou para cá. Tenho certeza de que se procurarmos bem, achamos uma daquelas vilas do Piemonte. A única diferença é que os vinhedos ficam em áreas planas, ao invés do plantio em colina, como é comum no Piemonte. Isto afeta bastante o gosto do vinho (segundo o meu piemontês de confiança, Roberto), porque as uvas recebem sol de cima o tempo todo, enquanto nas colinas (por causa da inclinação bem acentuada) o sol bate só durante uma parte do dia, e de forma diferente de acordo com a estação. Infelizmente não paramos para um tira-gosto, embora víssemos vários cartazes oferecendo degustação.

A estrada ao longo do Vale do Napa é linda. Passa pelas cidades de Santa Helena e Napa. Aviso: respirar custa caro ali. Parecem cidades onde os moradores ricos de San Francisco mantém casas de férias. As vitrines são como a Quinta Avenida em New York; as pessoas se vestem como recém saídas do último número da Cosmopolitan. Todas são louras, até os dentes. Dá um certo nervoso. Nem suar, elas suam.

Continuamos agora para sul. Muito tráfego, e ainda é domingo ao meio dia. Passamos um túnel e o que vemos? Lá está ela, a Golden Gate. Eu ouço falar nesta ponte desde que me entendo por gente, quando morávamos em Florianópolis. Na primeira série primária, D. Hercília nos fez escrever uma redação pelos cinqüenta anos da Ponte Hercílio Luz, e a bendita frase "uma-das-duas-únicas-pontes-tipo-pêncil-do-mundo-em-ferro" ficou na minha cabeça. A outra, obviamente, era a Golden Gate, em São Francisco (em tempo: não me responsabilizo pela informação acima. Sabe-se lá se a D. Hercília não estava estimulando o nosso ufanismo com informações falsas.) Parece estranho estar tão perto do Oceano Pacífico. Dá para sentir, um vento frio que vem do mar, e logo ali, além desta massa de água, está a China. Dos dois lados da ponte fica o Parque Nacional Golden Gate, e as pessoas vêm passear aqui no domingo, como fazem na Ponte de Brooklyn, em NYC. Vale a pena, é linda.

Paramos em São Francisco só para o almoço (restaurante chinês, obviamente!). É tão diferente de New York, casas baixas (o que faz sentido por causa dos terremotos) e uma pequena área downtown com prédios altos. Ficamos devendo um visita--já vi muitos filmes de Hitchcock para não ficar ansiosa para conhecer São Francisco de verdade. Continuamos em direção a Palo Alto. Nos perdemos só uma vez. A cidade é pequena, um típico subúrbio americano... rico. Palo Alto é subúrbio seja de San Francisco que do Silicon Valley, o que significa muita grana. E pobre de quem vive com budget de estudante como nós. Não resistimos e fomos ver a nossa casa, no Campus. Por fora parecia muito legal, mas vimos só uma estante, pela fresta da cortina. E ficamos apavorados--deixamos TODA a nossa mobília em New Jersey, porque Stanford tinha prometido uma casa mobiliada. No dia seguinte descobrimos que era mobiliada sim, só que não dava pra ver daquele ângulo. Demos uma volta rápida no Campus, que é feito para bicicletas, não para carros. E é lindo, enorme, em estilo de hacienda espanhola, embora tenha sido construído no início do século. Conta a lenda que Mr. e Mrs. Leland Stanford queriam doar uma ala para Harvard University, em memória do filho deles, que morrera em um acidente antes da graduação. O reitor (ou coisa parecida) com quem eles falaram esnobou um pouco a oferta, dizendo que uma ala de Harvard custava não sei quantos milhões de dólares. Mr. Stanford respondeu que por esta soma, ele construiria sua própria universidade. Escolheu uma das suas propriedades, uma fazenda de criação de cavalos, e daí nasceu Stanford, Jr. (O nome oficial da Universidade é Leland Stanford Jr. University, que o pessoal de Berkeley apelidou maldosamente de Junior University). Acho que é uma situação bastante única, a das universidades americanas, em que estes grandes magnatas destinam enormes somas para pesquisa e educação superior, a fundo perdido. Quem dera...

No dia seguinte recebemos as chaves da nossa casa, em Escondido Village, Stanford University. CASA! Depois de 21 dias em motéis e acampamentos, parece impossível. Bom, é impossível, porque por enquanto ainda não é casa, é um depósito de caixas: a nossa mudança chegou ao meio dia. Quase não dá para se mexer. Primeira coisa que Roberto fez foi montar o computador e começar a trabalhar. Ir da cozinha ao banheiro é uma corrida de obstáculos, e eu choro quando penso quando vou ter meus livros em ordem. Mas a gente chega lá...

(Bom, uma semana depois, devo dizer que a casa já é habitável. Faz falta um bom aspirador de pó, mas eu já consigo ver a cor do sofá. Semana passada era impossível, o sofá tinha virado um arquivo. A todos vocês que acompanharam a série, muito obrigada. A série termina aqui, mesmo porque as aulas começam amanhã, dia 23 de setembro. Beijos a todos, Lise)

PS. Não percam as fotos! E desculpem o português.

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