Phase XII - Utah
Utah é um dos estados mais bonitos que eu já vi, e nem fomos para o sul do Estado, que é considerado um patrimônio natural americano. Só passar pelas montanhas até chegar a Salt Lake City já foi uma delícia. E finalmente vimos o Grande Lago Salgado. Na verdade é só uma parte do lago original, três vezes maior. É seis vezes mais salgado que o oceano. A razão para isto é que todos os rios próximos alimentam o lago, sem saída para um mar. A água evapora e os sais que estes rios carregam ficam no lago. Um corpo humano bóia naquela água sem a menor dificuldade.
Eu me sentia estranha sobre o que pensar de Salt Lake City. Roberto morou aqui uns quinze anos atrás, e foi uma experiência terrível. Primeiro porque ele sofreu um acidente sério de moto, e depois porque sentiu-se muito "excluído" pela comunidade, uma vez que não é mórmon. Salt Lake City foi fundada por um grupo de mórmons, em meados do século passado. Os mórmons defendem (defendiam) a poligamia, o que fez que fossem perseguidos em quase todos os lugares em que habitaram. Finalmente acharam um lugar perto de um deserto, ao lado de um lago salgado, que ninguém poderia cobiçar. E este "era o lugar certo", disse Brigham Young, o fundador mórmom.
Agora, minha mãe me ensinou a respeitar TODAS as religiões, pois todas são uma tentativa de contato com o Deus. Mas aqui eu confesso uma certa dificuldade de entender. Explico. Bem no meio da cidade, há o Templo Square, tão grande que "uma carroça com seis bois pode manobrar sem dificuldades". Vi fotos e é muito bonito, mas fechado ao público. Nos jardins do Templo há jovens de todas as nacionalidades explicando a doutrina mórmon para os turistas e visitantes. Basicamente a história é esta. Joseph Smith, no início do século passado, recebeu a visita de um anjo, Moroni, filho do profeta Mormon, em algum lugar na costa Leste, dizendo que John deveria procurar um livro da palavra de Deus em uma colina não longe da sua casa. Smith achou uma caixa com placas de metal, escrito em egípcio antigo, que ele traduziu por graça de Deus. As placas são um complemento à Biblia, a palavra de Deus para o hemisfério ocidental, como a Bíblia é a revelação para o Velho Continente. Contam a história de três antigas civilizações na América, todas descendentes dos hebreus. O primeiro grupo veio para a América logo depois da destruição da torre de Babel; outro, por volta de 500 A.C.; e finalmente um terceira, cerca de 200 antes de Cristo (as datas podem não ser exatas, mas são próximas). Cristo, depois da ressurreição, também passou algum tempo na América, onde curou doentes e ressuscitou mortos, e fez algo parecido com um sermão da montanha. Os índios seriam descendentes destas três civilizações. Estranho? Sem comentários.
A cidade, que cresceu ao redor deste Templo, é linda, bem arrumada e limpa. Estradas enormes, arquitetura arrojada. E sem nada para fazer à noite (pelo menos não num domingo à noite). Parece muito rica, e as thrift stores, ou pawn stores (um tipo de lojas de penhores) são ótimas: comprei um casaco de carneiro por cinco dólares. Mas não vou sentir saudades de Salt Lake City.
O deserto, no entanto, é uma história complemente diferente. Deixamos Salt Lake City pelo lado oeste, contornando o Great Salt Lake pelo sul. O lago é incrível, quilômetros e quilômetros de água, e as salinas ao redor, recolhendo o sal. Tentamos achar uma mina de cobre (Utah produz quase 15% do cobre dos EUA), mas nos perdemos em algum lugar perto de Toele. Passando o lago, um deserto branco, apenas alguns arbustos verdes a beira da estrada. Continuei por mais alguns quilômetros, um vento danado, me sentindo numa tempestade de areia. Paramos num área de repouso... e não era areia, mas sal!!! Um imenso deserto salgado, sem nada, nada, a perder de vista, com uma camada sólida de puro sal. Uma superfície tão grande que de um lado não se vê a outra ponta. GoodYear faz testes de velocidade aqui, neste imenso deserto.
Estamos prontos para entrar no Nevada, e mudar mais uma vez o fuso horário. Será já a terceira vez. Primeiro, mudamos em Lake Michigan (para Central Time), depois em Nebraska (para Mountain Time) e agora para Pacific Time.
E já estamos em quase 4 mil milhas. |